sábado, 23 de fevereiro de 2013

Azarão no Oscar, 'Indomável Sonhadora' estreia no Brasil

Vencedor de dois prêmios no Festival de Sundance em 2012 -- Grande Prêmio do Júri e fotografia -- e do Camera D'Or de Cannes no mesmo ano, o filme "Indomável Sonhadora" se parece com tudo, menos um trabalho de principiante (veja trailer abaixo). 

O jovem diretor nova-iorquino Benh Zeitlin, de apenas 30 anos, conseguiu quatro indicações ao Oscar: melhor filme, direção, roteiro adaptado e melhor atriz para a impressionante garotinha Quvenzhané Wallis. Com apenas seis anos durante as filmagens, Quvenzhané é o alicerce essencial para que o filme funcione. 

O longa se apresenta como um consistente e por vezes aterrador mergulho em um universo selvagem do sul dos EUA, visto pelos olhos da menininha, cujo personagem atende pelo nome de Hushpuppy. Para obter o papel, a pequena artista precisou disputar a vaga com outras 3,5 mil crianças.

A protagonista e o pai Wink (Dwight Henry) vivem no sul da Louisiana, num lugar apelidado por seus poucos moradores como a "Banheira". O ambiente é devastado, periodicamente alagado, e abriga uma população com fé no poder da imaginação e das crendices. 
As relações humanas são as únicas ferramentas disponíveis para a resistência à pobreza e ao abandono. Se as catástrofes que abalam a região aludem, ainda que não diretamente, ao recente furacão Katrina, o tom da história é calcado num realismo mágico movido por vários elementos em comunhão. 

Além da interpretação natural de sua pequena protagonista, o longa ainda conta a figura do pai -- um padeiro de Nova Orleans sem experiência anterior em atuação, assim como boa parte do elenco -- e a fotografia de Ben Richardson, capaz de extrair uma beleza bruta de cada fotograma. O cenário se torna essencial para os personagens façam sentido neste ambiente. 

Assumindo o ponto de vista de Hushpuppy, o filme flui em cima de sua percepção exarcerbada e infantil a respeito de seu próprio poder. A protagonista chega a acreditar que possui o poder de vida e de morte sobre o pai -- o personagem sofre com uma grave doença cardíaca.
Vivendo quase como bichos, entre uma casa e um trailer quase destruídos, os dois comem a horas incertas e possuem um relacionamento contaminado por tensões -- provocadas principalmente por conta da ignorância e de dores mal-resolvidas de Wink. Uma dessas mágoas é a misteriosa partida de sua mulher, mãe de Hushpuppy. 

Apesar da obstinação do governo para retirá-los da área, eles insistem em ficar, personificando uma espécie de rebeldia que pode ser identificada com a contracultura dos anos 1960. Num filme tão sensorial, em que o melhor conselho para o espectador é deixar de lado a lógica e abraçar as emoções, o aspecto fantástico é reforçado pela presença dos auroques -- espécie bovina já extinta e que a menina evoca em suas fantasias. 

Devido ao baixo orçamento da produção, esses auroques não são fruto de efeitos especiais computadorizados e sim de uma engenhosidade retrô -- a equipe de filmagens recorreu a antigos truques do cinema. Ray Tintori, diretor da unidade de efeitos especiais, usou porquinhos muito pequenos e caracterizados com camadas de pelos e chifres, além de bonecos para materializar os animais.

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