terça-feira, 27 de maio de 2014

Especialistas traçam o perfil dos 'encoxadores' dos coletivos

Nos últimos tempos vimos vários casos de abusos masculinos contra as mulheres nos transportes coletivos: passadas de mão, "encoxadas", fotografias e filmagens de seios e até de genitais.
"Na capital paulista, foram efetuadas 43 prisões em flagrante até o dia 22 de maio de 2014; 40 foram autuados por importunação ofensiva ao pudor e estão aguardando a justiça estipular uma pena alternativa, que vai da doação de cestas básicas até a prestação de serviços à comunidade. Três, que chegaram a expor o pênis e ejacular nas vítimas, foram indiciados por estupro e estão presos", conta Osvaldo Nico Gonçalves, da Divisão Especializada de Atendimento ao Turista, subordinada à 6ª Delegacia do Metropolitano, da SSP-SP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo).

As redes sociais tiveram uma trajetória de mão dupla. Surgiram grupos no Facebook incitando a prática: em alguns deles, os participantes até trocavam dicas sobre a melhor forma de abusar das mulheres sem risco de flagrante. Essas mesmas páginas, porém, também permitiram aos agentes de segurança reforçar sua atuação.

Esse tipo de violação não é nenhuma novidade e não são cometidas por monstros ou doentes. De acordo com a polícia, os infratores são sujeitos "normais", universitários, com profissão e endereço fixo. "A média de idade dos infratores é de 25, 30 anos. Alguns são casados e têm boa condição financeira", relata Osvaldo.

"O fato de o sujeito ter educação superior ou boa situação social não o livra de ter defeitos de caráter, personalidade, ou de ser portador de patologia mental", explica o psiquiatra e terapeuta sexual Carlos Eduardo Carrion, de Porto Alegre (RS).

Esse tipo de abuso tem um nome específico: frotteurismo, que vem da palavra francesa frotter, que significa "roçar", "esfregar". Trata-se de uma parafilia –forma de obter desejo, excitação e prazer sexual de modo incomum à maioria– encarada como psicopatologia, porque não envolve o consentimento da outra pessoa.

O termo foi usado pela primeira vez pelo sexólogo alemão Richard von Krafft-Ebing (1840-1902) no livro "Psychopathia Sexualis" (1886). A versão recente, de 2013, do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais" da APA (Associação Psiquiátrica Americana) lista como critérios diagnósticos para frotteurismo que a pessoa esteja ao longo de um período de pelo menos seis meses, recorrentes, tendo impulsos sexuais intensos que envolvem tocar e esfregar-se contra outra pessoa sem a aprovação dela.

De acordo com o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade), também existem cinco parâmetros para considerar se um "encoxador" é ou não portador de parafilia: exclusividade (inexistência de outras formas de satisfação sexual), ação (frequência e regularidade da falta de controle do impulso), consentimento (participação consentida do outro), desconforto (culpa) e risco de lesionar-se ou de sofrer consequências negativas da ação.

Segundo Carrion, além dos doentes portadores de parafilia existem os sociopatas, psicopatas e indivíduos com distúrbios de personalidade (exibicionistas, por exemplo), que aderem à prática.

"Homens com uma formação educacional e moral deficiente também compõem um grupo significativo", afirma. É o caso dos participantes dos grupos virtuais e daqueles que passaram a abusar das mulheres nos transportes públicos apenas por "curtição".

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