quinta-feira, 5 de abril de 2012

Comer a própria placenta após o parto está 'virando moda', mas traz riscos

Os atores, normalmente, chamam a atenção por suas excentricidades. Ao final do mês de março deste ano, a atriz norte-americana January Jones afirmou em entrevista à revista People que havia recolhido a placenta após o nascimento do filho para transformá-la em vitaminas. "Tenho uma ótima doula [acompanhante de parto], que se encarrega de me fazer comer direito e de tomar vitaminas e chás, além das cápsulas de placenta. Eu recomendo que todas as mães o façam", disse à revista.

Apesar de Jones ingerir a placenta em cápsulas, há mulheres que optam por outras formas de ingestão (placenta cozida, por exemplo). Por mais estranho e repugnante que possa parecer, comer a placenta é um hábito comum no reino animal e vem ganhando adeptos humanos. Grande parte dos mamíferos, com exceção dos aquáticos, o fazem logo após o parto. Ao notar esse fato, pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, decidiram analisar quais as vantagens da placentofagia.

Com base no comportamento dos mamíferos não-humanos, o estudo obteve resultados interessantes: "Descobrimos que há benefícios para a saúde dos animais, como o alívio da dor e a melhora do comportamento materno após o parto", disse o neurocientista e responsável pela pesquisa Mark Kristal.

Segundo a pesquisa, para os animais, a placentofagia não tem ligação com a racionalidade. É parte do instinto animal. "A placenta e o fluído amniótico tornam-se muito atraentes para a fêmea por consequência de mudanças internas que ocorrem durante o final da gestação", explica Kristal. Logo após o nascimento do filhote, a mãe come todo o material embrionário como uma forma de repor os nutrientes e também com a intenção de prevenir-se do ataque de possíveis predadores -por conta dos odores que podem denunciar a existência de filhotes, que são presas fáceis.

Um risco possível
Mesmo com a declaração da atriz January Jones sobre uma possível melhora de seu organismo, o pesquisador Mark Kristal diz não conhecer vantagens cientificamente comprovadas da placentofagia entre os humanos. "Com base na ciência, não vejo a necessidade de humanos comerem placenta."

Eduardo Motta, ginecologista do Hospital Albert Einstein e diretor da Clínica Huntington, também divide a mesma opinião da pesquisa. Por mais que os animais tenham essa atitude, isso não significa que as pessoas precisam imitar. “Eles fazem várias coisas: rejeitam cria, comem fezes... Isso não quer dizer que devemos fazer igual".

Para Motta e Kristal, a ingestão da placenta pode trazer riscos. Por se tratar de um material biológico, há grandes chances de haver contaminação por bactérias, vírus ou até algum produto químico que tenha entrado em contato com a placenta durante o parto. Há ainda que se considerar fatores imunológicos da própria mãe. "Existe um risco biológico que a gente desconhece. A princípio, não recomendo para ninguém a ingestão desse material", diz o ginecologista.

Ato simbólico
"Hippies, naturalistas e defensores da nova era parecem fazer a associação: ‘os animais o fazem, somos animais, vamos fazê-lo'", diz o pesquisador. Para esse crescente número de adeptos, a placentofagia é capaz de aliviar a depressão pós-parto, ajudar na lactação e repor os nutrientes perdidos durante a gravidez.

Independentemente da falta de informações científicas sobre benefícios da placenta humana, tanto Motta quanto Kristal acreditam que a ingestão seja uma espécie de crença. “Eu já vi gente comer a placenta, mas as histórias eram mais por conta do simbolismo do ato", conta o ginecologista.

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